Quem está por dentro das novidades que surgem no mundo dos equipamentos de esqui pode ter a impressão de que a todo momento uma nova tecnologia aparece e se torna popular em um instante. Mas o que muita gente não sabe é que, desde o aparecimento dos primeiros protótipos de esqui, criados pelos caçadores e exploradores das neves há milhares de anos, o item ficou muito tempo sem evoluir.
Felizmente, a partir dos anos 1960, com a popularização do esporte, os esquis ganharam um “boom” de melhorias e recursos até chegarmos aos equipamentos eficientes que conhecemos hoje. Mas vamos voltar para o início de toda essa história do esqui e mostrar como foi esse caminho, passo a passo…
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Os primeiros registros dos esquis
Muitos historiadores acreditam que os primeiros esquis surgiram na Pré-História. Há evidências de pinturas rupestres e fragmentos de esqui preservados em pântanos que datam do período entre 8.000 e 6.000 a.C. O par de esquis mais antigo já encontrado no mundo foi descoberto perto do Lago Sindor, na Rússia. No entanto, ainda é amplamente aceito que a primeira comunidade a usar esquis foram os indígenas da Escandinávia, conhecidos como Sami .
Algumas evidências da Idade da Pedra, como petróglifos, mostram caçadores usando seus esquis revestidos de pele para perseguir rebanhos de renas e alces na região de Altai, na Ásia Central, principalmente na cordilheira que atravessa a Mongólia, Rússia, China e Cazaquistão dos dias atuais.
A história mostra, ainda, que a maioria das culturas que tiveram que suportar invernos rigorosos desenvolveu suas próprias versões de esquis, principalmente na Europa e na Ásia. A dinastia Han, por exemplo, deixou as primeiras referências escritas sobre esqui, citando o uso do meio de transporte na China entre 206 a.C. – 220 d.C. Já os Vikings, entre os séculos 9 e 11, usavam o esqui para transporte e recreação. Eles, inclusive, adoravam Ullr e Skade, o Deus e a Deusa do esqui.
1200 d.C – Início da história moderna do esqui
Os esquiadores militares noruegueses, os Birkebeiners, carregam o herdeiro do rei, Haakon Haakonsson, de 2 anos, para a segurança nas montanhas Dovre, de Lillehammer a Østerdalen, durante uma Guerra Civil, criando assim um dos mais lendas famosas da história do esqui.
Posteriormente, em 1452, a Suécia também começou a usar tropas de esqui. Entre os séculos 15 e 17, Finlândia, Noruega, Rússia e Polônia se juntaram à Suécia no uso de esquis para a guerra. Esquiar era uma grande vantagem em áreas nevadas para explorar facilmente o terreno e patrulhar as tropas inimigas.
Noruega, 1800-1840 – Esquis curvados
Um dos avanços mais significativos no design dos esquis ocorreu no início de 1800, quando o esqui curvado foi inventado por entalhadores da província de Telemark, na Noruega. O centro do esqui passou a ser côncavo, de modo que o peso do esquiador se distribuía de maneira mais uniforme ao longo do esqui.
Como consequência, a probabilidade dos esquis afundarem na neve ficou menor. Além disso, com o novo design, os esquis ficaram mais finos, mais leves e deslizavam mais rapidamente sobre a neve. A flexibilidade também facilitou as curvas e melhorou a absorção de impactos.
Noruega, 1868 – Corte lateral e upgrade nas fixações
As melhorias continuaram na região de Telemark. Em 1860, o esquiador Sondre Norheim – considerado o pioneiro do esqui moderno – demonstrou o esqui Telemark, com um corte lateral que estreitou o esqui sob os pés, enquanto a ponta e a cauda permaneceram mais largas.
Assim como aconteceu com a curvatura, o corte lateral produzia um esqui que flexionava mais facilmente quando inclinado para a borda. Sondre também popularizou uma fixação (binding) mais rígida que mantinha o calcanhar centralizado sobre o esqui ao virar.
Áustria, 1926 – Surgimento das bordas de aço
Em 1928, outro grande salto na estrutura do esqui foi dado pelo austríaco Rudolf Lettner. Ele inventou a borda de aço nos esquis, dando-lhes uma melhor aderência na neve dura, sem perder a flexibilidade da madeira. No entanto, os esquiadores muitas vezes tinham que carregar bordas extras, pois os parafusos caiam e a borda se perdia. Na mesma época, a França começou a fazer experiências com o alumínio como um possível material para o esqui.
Suíça, 1929 – Os bindings “Kandahar”
O avanço seguinte foi nos bindings (fixações) dos esquis. A peça, que já vinha passando por adaptações graduais, deu um salto com a introdução do modelo “Kandahar”. Nesse protótipo, a bota do condutor ficava presa pelo calcanhar ou pela ponta do pé. Em uma época em que ainda não existiam os modernos meios de elevação e as subidas dependiam do esforço do esquiador, essa tecnologia permitia que o equipamento fosse usado tanto ladeira acima quanto ladeira abaixo.
Noruega, 1932 – Esquis laminados de três camadas
Pela primeira vez, em 1932, foram inventados esquis laminados de três camadas. Felizmente, eles descobriram uma cola impermeável, permitindo que os esquis durassem muito mais tempo que os esquis de duas camadas anteriores. Então, em 1937, a invenção de uma cola super forte chamada RED revolucionou o mercado, abrindo caminho para que os esquis de plástico e metal avançassem ainda mais.
França, 1944 – Esquis de plástico e metal
O primeiro par de esquis à base de plástico foi feito na França, em 1944, para a Dynamic Skis. No ano seguinte, o primeiro esqui de alumínio foi fabricado por três engenheiros de aeronaves. Tinha miolo de madeira e era laminado com alumínio. Mas os esquis de metal não tiveram sucesso comercial até 1949, quando Howard Head prendeu por pressão um esqui de alumínio a um núcleo de compensado com paredes laterais de plástico e bordas de aço.
Estados Unidos, 1949 – O sucesso do esqui de alumínio
O engenheiro de aeronaves Howard Head criou o primeiro esqui de metal de maior sucesso comercial. Era um esqui de alumínio colado à pressão com um núcleo de compensado, paredes laterais de plástico e bordas de aço integradas contínuas. Foi o primeiro esqui de sucesso feito de componentes muito diferentes. Head teve tanto sucesso que os esquis da empresa dominaram o crescente mercado de fabricação de esqui, contribuindo com quase metade de todos os esquis em todo o país nos próximos 20 anos.
Estados Unidos, 1950 – A popularização definitiva dos esquis
Um dos maiores saltos na popularização do esqui ao redor do mundo se deu com o desenvolvimento do primeiro modelo para fins recreativos, em vez de um equipamento focado apenas em quem queria se tornar um competidor nas modalidades de inverno. Usando compensado e folhas de liga de alumínio como material, os esquis eram leves, resistentes e podiam ser encerados para melhorar sua performance.
Canadá, 1959 – Esquis mais leves, resistentes e rápidos
Ainda na área dos materiais de construção do equipamento de esqui, uma revolução aconteceu quando um novo modelo de esqui utilizou fibra de vidro plástica como matéria prima básica do item. O resultado foi tão positivo que, em pouco menos de dez anos, a técnica se tornou o padrão absoluto dentro da indústria dos esportes de neve. Dentre outros benefícios, destacavam-se a durabilidade, resistência e flexibilidade do material.
Estados Unidos, 1965 – Botas de esqui plásticas
Uma das peças fundamentais nos equipamentos de esqui atuais são as botas plásticas super-resistentes, firmes e confortáveis. Elas nasceram nos anos 1960, substituindo os calçados de couro que tinham apenas os detalhes em plástico para aderirem aos bindings. São consideradas mais duráveis e seguras para a prática do esqui, além de melhorarem o desempenho dos esquiadores por conta da melhor aderência ao aparato.
Áustria, 1988 – Melhores esquis para neve powder
Explorar a neve fofa era ainda mais desafiador antigamente, pelo menos até o surgimento do primeiro modelo de esquis focados nesse tipo de atividade. Ao cortar um snowboard ao meio para criar duas peças mais largas, e fazer ajustes em seu desenho e formato, surgiu o esqui “super fat” ou extra largo. Com maior amplitude, ele passou a oferecer aos esquiadores mais estabilidade e melhor rendimento no terreno com neve powder.
Eslovênia, 1993 – Evolução dos esquis parabólicos
Mudanças drásticas no desenho dos esquis parabólicos levaram esses equipamentos de esqui a um próximo nível, com modelos exibindo cortes laterais até três vezes maiores que o normal. O design arrojado implicava em uma capacidade nunca antes vista em fazer curvas fechadas até mesmo em baixas velocidades. Originalmente pensado para competidores de alto nível, rapidamente ele se tornou um dos tipos de esquis mais procurados pelos iniciantes no esporte.
França, 1998 – Nascem os esquis de ponta dupla
Uma das últimas revoluções no universo dos esquis foi o surgimento dos modelos com ponta dupla, que tornaram mais simples a tarefa de decolar ou pousar tanto de frente quanto de costas. Esse traço fez com que as competições de estilo livre evoluíssem muito, transformando-se em uma das modalidades de esqui mais famosas. Hoje, esquis de ponta dupla deixaram de ser uma característica presente apenas nos modelos de quem deseja dar saltos e acrobacias, mas sim um traço comum em uma vasta gama de modelos.
Dias de hoje e futuro próximo: e agora?
Nas últimas décadas, e ainda nos dias de hoje, o grande desafio para as grandes marcas de esqui como Rossignol, Salomon, Head, K2, Atomic e muitas outras bem estabelecidas no mercado, é unir os avanços em desempenho com a segurança do esquiador. O surgimento de novos tipos de esqui cada vez mais velozes e versáteis obrigam a evolução de outros acessórios, como bindings, botas, bastões de esqui, óculos… A tecnologia de um equipamento sempre anda ao lado das outras.
A evolução geral do equipamento de segurança para prática de esqui garante que o esporte possa ser praticado com tranquilidade por pessoas de todas as idades e níveis de habilidade. Novos materiais como fibra de carbono e outras técnicas de construção devem ser testadas, embora grandes mudanças no design dos esquis não sejam previstas para os próximos anos. Mas quem sabe os esquiadores de Telemark, lá em 1868, também pensavam o mesmo… Vamos deixar o tempo nos surpreender!
